28 março, 2024

A família Van Loon

 


A família Van Loon

É uma pintura desconhecida da maioria das pessoas, porque não é famosa, porque não consta nos livros de arte. Encontrei-a por mero acaso e interessei-me pelo seu significado. Foi pintada no século XVII por Jan Miense Molenaar - pintor holandês e a sua obra revela influências de Van Ostade e de Franz Hals, de quem foi discípulo; é autor de retratos e sobretudo de cenas de género urbano e campestre.

Se a pintura e o autor não são famosos, o que me atrai nesta obra?

Esta obra está exposta no Museu Van Loon e representa a família do mesmo nome.

Merece atenção sobre o que representa e como é representado.

Atentem aos pormenores.

Estão representadas 4 gerações da família Van Loon, com uma ordem cronológica, no lado direito os mais velhos e à esquerda os mais novos.

Curiosamente quando o pintor criou esta obra, os avós, os mais velhos, já tinham falecido. O pintor fez uma espécie de “montagem”, copiando retratos já existentes deste casal. O avô é representado pousando a mão sobre uma caveira, ficando assim registada a morte, localizado à direita.

Esta obra associa os vários membros da família aos 5 sentidos responsáveis pela captação de informações do meio..

Ora, observem, da direita para a esquerda, a avó está com uns óculos numa mão e a outra mão pousada sobre um livro, significando a VISÂO.

Seguem-se os pais que tocam instrumentos musicais, um cravo e um alaude, evocando a AUDIÇÃO.

Depois surgem dois jovens supostamente namorados, e que não devem nada à beleza, em que o rapaz pega numa flor e dá a cheirar à outra figura. Aqui temos o sentido do OLFACTO.

No lado esquerdo temos as crianças. Duas brincam com um gato, e o rapaz com ar maroto, segura o gato pelo rabo que acabou de arranhar uma das meninas, cuja expressão é de dor na pele agredida – o TACTO.

E finalmente as outras duas crianças, comem frutas variadas deliciando-se com o seu sabor – o PALADAR.

Outro pormenor, o ponto de fuga da perspectiva do pavimento, separa a vida da morte.

Esta obra está exposta no Museu Van Loon, em Amesterdão e certamente conterá outros pormenores que não consigo descodificar.

A pintura barroca tinha como característica focar as naturezas mortas, a vida familiar e paisagens pitorescas, em que alguns adicionavam pormenores interpretativos, como os 5 sentidos do ser humano, enriquecendo o tema principal. Na época a representação dos cinco sentidos era muito apreciada, e curiosamente a “visão”, era considerada como o mais importante dos sentidos, aqui, atribuída à avó. 

Os sentidos nem sempre têm fácil representação e é curioso observar obras desta época  e forma que estes tomavam na composição pictórica.

Anabela Quelhas - art teacher


27 março, 2024

50 anos de "maus hábitos"

50 anos de “maus hábitos”


Foram 50 anos de “maus hábitos” e isto desassossega-me.

A maioria dos portugueses já nasceu e cresceu em cima de uma almofada de cetim, ergonómica e perfumada chamada democracia, convertendo, inconscientemente, conquistas em hábitos, como se as conquistas democráticas fossem um dado adquirido desde sempre, não concebendo piores condições de vida, nem uma sociedade claustrofóbica, sem respeitar homens e mulheres, e quem pensa diferente. Parece que se esqueceu tudo e não se aprendeu nada. Esqueceu-se de que muitos já experimentaram outro regime político, esqueceu-se a miséria, o analfabetismo, as prisões e as desigualdades sociais. Também não se aprendeu que a democracia é um ideal, algo que se constrói, e que cada um tem o direito de ambicionar uma vida melhor, permitindo-se usar um dos pilares da democracia que é a possibilidade de protesto e de luta, por uma sociedade cada vez melhor e mais justa para todos.

O desconhecimento das conquistas e a não valorização dos principais pilares da democracia levou àquilo que denomino por “maus hábitos”, onde até o acto de votar parece ser um verdadeiro aborrecimento para alguns ou que transformam o protesto em opção política, enveredando por caminhos esconsos.

A malta que hoje tem problemas, e que são muitos - emprego, saúde, habitação, educação e segurança - pensa que antes era melhor, e não era! Aceita a abordagem desses protestos através de discursos mal-intencionados, ideologicamente carregados por intenções que podem corroer os pilares da democracia.

Foram 50 anos de “maus hábitos”. Destacar os defeitos e esquecer as qualidades deste exercício da democracia é má pedagogia.

Vemos a Europa aqui ao lado, deslumbramo-nos com tudo, temos a justa ambição de viver melhor e lutamos por isso, porém, no processo não pode valer tudo.

Há um “vírus” mundial que ataca e, infelizmente, ataca onde calha, que se chama corrupção, mais visível nuns do que noutros, mas sempre condenável, sempre a colocar calhaus no caminho da democracia e da cidadania. Condeno, desprezo quem faz, mas quero evidenciar que os críticos mais ferozes, depois vai-se a ver, andam a meter cunhas para arranjar trabalho para os filhos, andam a meter cunhas ao médico, ao vereador, ao professor, ao polícia, ao fiscal, tentam safar-se da multa do estacionamento, abusam do SNS, não declaram todo o seu rendimento, inventam despesas para o IRS, criam fontes de receita clandestinas, recebem subsídios para isto e para aquilo, as grandes superfícies de alimentação inventam pontos e talões de descontos, publicitam produtos sem IVA e outras “engenharias” financeiras.

Há também uma vaga de fundo de egoísmo, estruturada na falta de solidariedade, onde cada um se quer afogar num mar de individualismo extremo, desprezando o outro, o seu conforto e os seus direitos. Esta vaga segue redes sociais, e partilha de opiniões que subestimam os valores conquistados em Abril de 74. Não querem Estado, mas não sobrevivem sem ele.

- Desde que eu esteja bem, os outros que se lixem!

Hoje é urgente repensar tudo e valorizar o que temos. A democracia tem que se tratar como um filho, valorizando as qualidades, e superar defeitos sem fazer grande estardalhaço e sem tomar medidas radicais que o poderão prejudicar e bloquear definitivamente. É preciso responsabilizá-lo pelas suas decisões, entre as quais votar de forma consciente e informada.

É preciso lembrar ou dar a conhecer, que vivemos todos muito melhor do que há 50 anos. Alguns desconhecem esta realidade. Os mais jovens que perguntem à família, como viviam, como se divertiam, como eram os cuidados de saúde, se passaram fome, se tiveram bodas de casamento, se viram alguém descalço, se iam a festivais e a discotecas, se tinham roupa de marca, se jantavam com os amigos, se tinham telefone, se tinham médico de família ou hospital, se os avós tinham férias, se existiam Mcdonald’s e centros comerciais, se todos frequentavam a escola e quantos acediam à universidade, se tinham quarto de banho, se tinham cidades de chão limpo… tanta pergunta que haverá a fazer. Façam-nas! Perguntem o que eram as calças de costura no rabo aberta que usavam as crianças – esta é a imagem icónica do “antes”. Preparem as lousas para substituir os tablets!

A alternância democrática é saudável e é preciso reflectir para que não se ultrapasse o intervalo democrático da alternância.

Um partido não soube ser oposição, não conseguiu segurar o seu eleitorado, nem recorrendo ao baú cheio de mofo e teias de aranha; o outro não soube ler correctamente a narrativa de sucessivos protestos, deixando-se seduzir por uma maioria enganadora; o PR fala, fala, mas tem uma família que também não aprendeu nada e não se aguenta à bomboca. Sobram os activistas ambientais, aqueles que continuam a tomar banho quentinho com água aquecida numa caldeira a gasóleo, a mascar chiclete, a consumir tofu embalado em plástico, a calçar sapatilhas contrafeitas  e a viajar nos aviões low coats, e que agora não fazem mais nada além de borrar tudo de tinta verde. Triste! Cartão vermelho para todos. É urgente regar e adubar os cravos e já agora pensem no ridículo da bola interromper um programa sobre eleições.

Após 3 dias das eleições, ainda se desconhece os valores totais das votações e já vem a herdeira de Belmiro de Azevedo apresentar os lucros Sonae de 2023, proferindo que os resultados eleitorais são como um “grito de mudança” e logo contesta o pagamento de imposto sobre lucro excessivo. Com 357 milhões de lucro (nem faço ideia o que isso é), contesta 1,3 milhões de euros de pagamento de imposto sobre o lucro excessivo, representando 0,36%. Eu consultei a tabela de IRS onde me insiro e constato que a taxa menor é de 5,9% para quem ganha uns míseros 935€ mensais.

Para quem é ingénuo ou perdeu o Norte neste mar difícil da democracia, feito de calmarias, tempestades e armadilhas, aqui está um bom retrato sobre uma das grandes mudanças que significa votar à direita.

Publicado em NVR em27/03/2024


25 março, 2024

como se tudo no mundo fosse alquimia

 


Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia

Não esperava por ti, porque eras alguém que eu não conhecia

Era tarde, tão tarde, tardando o beijo, que não acontecia

Quando nós nos olhámos esquecemos o beijo que a boca pedia

 

E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria

Em nós dois nessa tarde em que tanto tardou o sol amanhecia

Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia


Abraçados nós dois, como se tudo no mundo fosse alquimia

 

Meu amor, meu amor

Minha estrela da tarde

Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde

Meu amor, meu amor

Eu não tenho a certeza

Se tu és a alegria ou se és a tristeza

Meu amor, meu amor

Eu não tenho a certeza


Foi a noite mais bela de todas as noites que se viveram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram

Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam

Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram

 

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto

É por ti que adormeço e acordo embalada num canto

Essa tarde em que construímos um sonho de profundo encanto

Essa tarde, essa noite que temos saudade sem mágoa nem espanto

 

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!


Poema adaptado de José Carlos Ary dos Santos (AQCD)

24 março, 2024

LQB

 


Pintura AQ 

23 março, 2024

22 março, 2024

TRENCADIS

 

O trencadís (do catalão trencat, em português: quebrado) é uma técnica decorativa que consiste na criação de uma espécie de mosaico com pedaços irregulares de cerâmica ou outros materiais de fácil fragmentação, normalmente usada na decoração de superfícies verticais exteriores. Esta técnica foi muito utilizada durante o modernismo catalão, tendo os seus arquitetos e artesãos atingido um grande grau de destreza na sua conceção e execução. A utilização do trencadís foi particularmente advogada pelo arquiteto Antoni Gaudí e pelos seus discípulos, em especial Josep Maria Jujol, sendo uma das mais marcantes características das suas obras. Atualmente, a utilização de trencadís é um dos sinais distintivos das obras do arquiteto valenciano Santiago Calatrava, que usa sobretudo trencadís branco para revestir o exterior das suas obras, como a Cidade das Artes e das Ciências em Valência.

As vantagens do trencadís incluem a rápida aplicação, a grande espontaneidade de desenho e o facto de permitir a utilização de restos de materiais que de outra forma não seriam aproveitáveis. No Parque Güell, por exemplo, Jujol usou essencialmente pedaços de mosaico, louça e garrafas (incluindo o seu próprio serviço de jantar), mas também materiais pouco usuais como um fragmento de uma boneca, e diz-se que por indicação de Gaudí os operários tinham por hábito recolher os pedaços de cerâmica e vidro que encontrassem no lixo a caminho da obra, tendo-se igualmente tornado costume para os barceloneses empilhar junto ao parque a cerâmica, louça e porcelana que se partia para ser reciclada na construção.

  para Anabela Quelhas art teacher


ANTECIPANDO





 Rebelo Hotel

Cais de Gaia 380, Vila Nova de Gaia