02 outubro, 2025

01 outubro, 2025

DOURO JAZZ

 


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QUINTA DAS ALFAZEMAS, Mafra
 

"POEMA COM HISTÓRIA" - António Cabral


"POEMA COM HISTÓRIA" - António Cabral.

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Voz: Anabela Quelhas

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INVERTE O DISCURSO

 


INVERTE O DISCURSO

Aproximam-se eleições e é necessário ter a memória fresca, pensamento ginasticado e sobretudo manter a lucidez. Nestes últimos dias de campanha, vai valer tudo. A demagogia para convencer os mais despreparados e incautos estará ao rubro.

O ser humano é um ser por natureza insatisfeito e isso faz evoluir a Humanidade, porém é preciso saber para onde e como.

A comunicação social e as redes sociais passam constantemente a ideia que todos são corruptos, ladrões, criminosos, mal-formados e oportunistas. Raramente dão destaque aos honestos, aos criativos, aos bem-pensantes, porque são a maioria e não dão canal. Pare para pensar.

Hoje vivemos muito melhor do que há 50 anos! Se vivemos melhor, é necessário inverter este discurso. A democracia é um ideal que se tenta atingir e talvez nunca chegaremos ao final do caminho, porque este tem muitos obstáculos, e o maior obstáculo são aqueles que tentam derrubá-la.

Vivemos 50 anos sem guerra! Temos direito a opinião, a formar organizações políticas e até partidos, e a votar. Temos o direito de saber que há corrupção e a apontar o dedo. Era assim, antes? Não, nem sabíamos o que se passava no país, eramos uma população ignorante – então, mudamos para melhor.

Antes do 25 de abril de 1974, o sistema de reformas em Portugal era limitado e não abrangia todos os cidadãos.

Há 50 anos quantos serviços de saúde existiam em Vila Real? Um pequeno e velho hospital, cedido pela Santa Casa da Misericórdia, duas pequenas clínicas, a Delegação de Saúde e o Serviço de Assistência à Tuberculose, onde íamos tratar das vacinas quando íamos para o antigo Ultramar. Quantos médicos havia com consultório? Meia dúzia. Hoje temos um grande Hospital Distrital, onde não vou mais vezes, porque tem listas de espera, mas quando tenho um problema muito grave é para onde vou. Temos três centros de saúde com médicos de família, dois hospitais privados, diversos pontos de enfermagem, de fisioterapia e de meios de diagnóstico por imagem. Precisamos melhorar? Sim. Mas estamos incomparavelmente melhor. Temos o INEM, quando a dor no peito aperta, para quem telefonamos? Para os hospitais privados? Para o comentador do sofá? Para o político que prometeu “mundos e fundos”?

A esperança de vida aumentou e a mortalidade infantil reduziu-se. Foi por quê? Temos lares para a terceira idade, infantários, pontos de apoio para os toxicodependentes, unidades de planeamento familiar, pavilhões desportivos, espaços para desenvolver o turismo e muito património conservado. Tínhamos isto há 50 anos? CLARO QUE NÃO! Temos centros de cidade vazios, porque se apostou na construção de centros comerciais. E quem não utiliza os referidos centros comerciais, atire a primeira pedra.

O Rendimento Mínimo provoca alergias a muita gente, porque meia dúzia de oportunistas, fazem erradamente bitola para todos. Paga o justo pelo pecador, mas ajuda muitas famílias.

Há desafios a superar para garantir uma justiça mais eficaz e acessível a todos. Portugal está considerado o 33º país menos corrupto do mundo, em 135 países, mesmo assim é um lugar que não gera orgulho.

A escolaridade é gratuita até ao 12º ano.

Vila Real, uma cidade pequena tem uma oferta cultural, nunca vista anteriormente. Quando a Amália vinha a Vila Real, a malta até saia à rua a aplaudi-la – sinal de atraso e escassez.

Há 50 anos demorávamos quatro horas para ir ao Porto, hoje bastam cinquenta minutos e a maioria das cidades têm acesso por auto-estrada ou via rápida.

Há falta de dinheiro? Sim e não! As grandes obras públicas estão dependentes de candidaturas a fundos europeus, mas existe na nossa sociedade uma economia paralela, atrevida, descontrolada e gigantesca que é urgente travar.

A emigração não é incompatível com a democracia.

Há falta de habitação, sim. No pós Abril, as pessoas organizaram-se em cooperativas/associações que tentavam resolver diversos problemas junto às populações, ligados à habitação, à agricultura e até à cultura e educação. Sabem o que aconteceu? Ergueu-se uma contestação sombria contra estas estruturas, porque diziam que eram comunistas, o “bicho papão”. A maioria das casas em Portugal agora tem água canalizada, instalações sanitárias, esgotos e eletricidade, com apenas 2% das habitações sem esses serviços básicos. Em 2020, 75% dos residentes em Portugal viviam em habitações próprias.

Podes fazer greve, participar em manifestações, até podes ser facho e ignorante, e não pagas para votar. Pensa, reflecte e inverte o discurso. Valoriza as conquistas de Abril e o país fantástico onde vives, porque muitos querem vir para cá.

Publicado em NVR 01|10|2025

27 setembro, 2025

24 setembro, 2025

"TELA IMPOSSÍVEL" - Nuno Júdice


Sérgio Godinho


 Sérgio Godinho

A primeira caricatura aceitável que desenhei foi de Sérgio Godinho. Fazer uma boa caricatura é muito difícil, e eu detesto, porque acho sempre que não apanho bem os traços marcantes do rosto do modelo, para depois os exagerar.

Sérgio Godinho era fácil de caricaturar, bastava exagerar naquele “bocão” imenso, quando sorria de orelha a orelha. Conheci Sérgio Godinho pela televisão, depois do 25 de abril. No Porto cruzei-me com ele algumas vezes, porque era amigo do arquitecto do atelier onde eu trabalhava e aparecia por lá. Também o encontrava na cervejaria Galiza. Sempre simpático, afável, ar juvenil e sorridente, parecia um miúdo.

Um dia fui ver um grande espectáculo dele, no teatro Rivoli - deixou os bilhetes no atelier. Os meus amigos e eu, naquela noite percorremos as ruas da baixa do Porto a cantarolar as músicas mais populares dele, que também passavam na televisão, num programa infantil denominado “Amigos do Gaspar”. Ainda hoje canto com frequência, “Cuidado Casimiro” e outras.

Vila Real recebeu Sérgio Godinho no primeiro dia da feira do livro, para falar sobre o seu livro “Como se não houvesse amanhã”, um livro de histórias suicidas. Um tema que dá “pano para mangas” o que me convenceu a ler o livro.

Foi noite de conversa literária nas palavras simples de Sérgio, que se acompanhava por uma garrafa de vinho Douro Jazz, bebericando de vez em quando.

Falou-se de suicídio, da vida e da morte, de Albert Camus, da Síndrome de Estocolmo, da forma como escreve, fazendo analogia entre a música e as palavras, e o seu processo de escrita, que é  outra janela que abriu para a criatividade. Disse que fica órfão das suas personagens quando termina um conto – achei bonito – porque essas personagens passam a pertencer ao leitor.

Frase que retive: “Não vivo sem criar, não crio sem viver”.

Inevitavelmente falou-se sobre liberdade e os perigos que atentam cada vez mais contra a mesma. Sobre Gaza, opinou sendo um verdadeiro um genocídio, reconhecido pela maioria dos países, que nós assistimos pela televisão sem poder fazer nada, gerando um grande sentimento de frustração.

Sérgio Godinho é um dos músicos portugueses mais influentes dos últimos 50 anos. As suas músicas de intervenção, tornaram-se intemporais, apelando para uma sociedade melhor e mais justa, lembro “Paz, pão, habitação, saúde, educação, só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir, quando pertencer ao povo, o que o povo produzir”, que faz parte do cancioneiro revolucionário do pós 25 de Abril.

Os lugares sentados esgotaram e o claustro do edifício do Conde de Amarante, encheu-se de gente sequiosa por palavras com sentido e preocupada com os caminhos da liberdade.

Publicado no NVR 24|09|2025

23 setembro, 2025

entre quem lê


 ESTÓRIAS NO MAÇADOIRO integrado no painel da Academia de Letras de Trás-os-Montes, durante o evento "Entre quem lê"-