05 dezembro, 2025
03 dezembro, 2025
Apresentação "25 poemas ilustrados - Vila Real" - intervenção Anabela Quelhas
1ª intervenção - Mara Minhava.
2ª intervenção - Hilário Néry Oliveira
3ª intervenção - Hermínio Botelho
4ª intervenção - Anabela Quelhas (autora)
25 poemas ilustrados VILA REAL
Intervenção de Anabela Quelhas
Há uma frase que está no prefácio que
diz isto sobre mim: Uma mulher de sorte, pois não consegue ter um minuto de
aborrecimento. Isto é o que o meu amigo Hilário pensa sobre mim, e é
verdade
O prof Hilário conhece-me há muitos
anos e em diversos contextos, e de facto é isso mesmo que me caracteriza, quando
não tenho o que fazer invento. Nunca espero aconteça, esforço-me para fazer
acontecer.
Há muito que faço muitas parcerias
culturais não lucrativas, todos os dias, ou escrevo, ou desenho, ou pinto, ou
crio algo no mundo digital. Quando isso não acontece tenho a sensação que o
tempo passou por mim, sem eu passar pelo tempo, ou vice-versa não sei. Fica-me
um sabor um pouco amargo, de um dia desaproveitado, mal terminado. Interrogo-me,
o que é que eu fiz? Nada! Não sei se será uma qualidade minha, é seguramente um
estado ansioso permanente, nem sempre agradável, mas que nunca pretendo perder
e por vezes dá frutos positivos. Só as vezes.
A obra que se apresenta aqui hoje, é
mais um atrevimento meu, que me fez sair da minha zona de conforto.
Escrevo poesia desde os 13 anos, mas
isso não me dá créditos nessa área. Antes a poesia era o ombro amigo que
acolhia as minhas grandes tragédias amorosas de adolescente, quando eu chorava
baba e ranho e pensava que o meu mundo iria acabar ali perante os meus enganos
e desenganos. Em vez de me fechar dentro de um armário escrevia poesia em que
paixão rimava com coração.
Com a maturidade e lendo alguns dos
nossos poetas, fui descobrindo outras facetas da poesia, que esta poderia
expressar outras emoções mais interessantes e mais universais, tanto no
sofrimento como na alegria. Para mim a poesia é algo que se constrói rapidamente sem aviso, tem
origem numa palavra ou uma imagem, ou um momento. Não tem hora. Eu que adoro estudar
cidades, de repente descobria algo que me emocionava pela beleza, pela logica,
pela desconstrução social e virava poema rápido, belo de dizer mesmo que irreflectido.
A poesia foi acontecendo assim.
O primeiro livro que tive A História
da Carochinha, estava escrito em versos, foi assim que adormeci muitas noites
com a minha mãe a ler para mim.
Com 9 anos proporcionou-se ver e ouvir
David Mourão Ferreira, a declamar. Não percebi quase nada, porque era evento
não publico, de final de tarde para adultos, vivia-se a época Marcelista, e sei
que fui com os meus pais a convite do Prof Dr, Nuno Grande, em Luanda e para
mim foi uma seca, era pequena e eu tentava vê-lo no espaço entre fatos e
vestidos de cerimónia das pessoas sentadas. Mesmo assim, olhando para as
expressões dos adultos, os seus rostos inicialmente surpreendidos, depois
sérios e preocupados, as salvas de palmas entre cada poema, percebi que havia
ali uma magia nas palavras capaz de despertar fortes emoções nos adultos e sempre
reservei esse momento na minha memória.
O que fazia David Mourão Ferreira em
Angola em 1969, não sei e já não tenho a quem perguntar.
Um dia, na adolescência, um colega,
meteu no meu bolso à saída do liceu, um papel rasgado de um caderno que dizia:
“Morena, morena
Dos olhos castanhos,
Quem te deu morena,
Encantos tamanhos?”
pensei que fosse ele o autor, apesar
dos meus olhos não serem bem castanhos, mas fiquei feliz e emocionada, só depois
descobri que foi Julio Dinis o autor, mas valeu a pena, o encantamento ainda
durou uns dias….
Ao longo do tempo a poesia passeou-se
ao meu lado, sem ter o meu foco, porque andava ocupada ou distraída com outras
coisas. Apenas me apercebia que não conseguia ler poesia sem ser em Português.
É uma limitação que mantenho até hoje.
Em 2012, aconteceu algo marcante
neste meu mundo: Eu já mulher madura, tive oportunidade de ver uma grande exposição
itinerante, que esteve na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, sobre
Fernando Pessoa, "Fernando Pessoa: Plural como o Universo",
curiosamente organizada pelo Brasil pela Fundação Roberto Marinho. Essa
exposição combinava a imagem, a poesia, o espaço, a luz, a sombra, a penumbra e
a cor, por forma a despertar emoções - uma exposição única, fabulosa e
imprevista recorrendo à tecnologia e a interatividade e que foi determinante
para mim e o meu entendimento sobre esta arte literária.
Saí de lá uma pessoa diferente
percebendo que a poesia pode ter uma força gigantesca, multifacetada e
universal. Passei a escrever poesia e associar-lhe uma imagem – desenho ou
fotografia e até agora é a forma mais fácil de expressar o meu sentido poético/estético,
neste momento sinto estes elementos inseparáveis.
Essa exposição tinha um catálogo que
fiz questão de adquirir e é até hoje o meu livro preferido. É um autêntico manual
de artes gráficas aplicadas à poesia, muito inspirador. Talvez seja difícil
adquiri-lo, porque esgotou, quem tem tem quem não tem talvez nunca terá. Para
mim é uma verdadeira relíquia de saber das palavras e da imagem.
Em novembro de 2024 criei um programa
de poesia na Radio Universidade FM, DE
POETA E DE LOUCO TODOS TEMOS UM POUCO, que é um canal aberto para partilhar poesia
lusófona 3X por semana, e obviamente, decorreu um ano com a poesia muito
próxima de mim.
Este ano 2025, comecei por escrever
um texto no jornal NVR em janeiro de 25 sobre a estátua de vila real. E em ano
de centenário decidi fazer uma lista daquilo que distingue esta cidade das
outras, lembrei de alguns poemas urbanos sem destino, alguns desenhos sem
moldura, misturei tudo. e surgiu este projecto que se conclui hoje aqui. São 25
poemas escritos ou organizados no ano 25, com 25 páginas ilustradas. A
ilustração foi realizada a partir de cerca de 130 desenhos. Foi uma azáfama.
Cada poema, cada desenho, pode ser lido e sentido de formas diferentes, e cada leitor terá a sua interpretação interligada com o seu mundo interior.
A delicadeza de uma estátua
representada, apenas por linhas, desenhar o centro histórico, as varandas, a
adufa, o coreto, os anónimos… foi uma experiencia que me enriqueceu e, enfim,
encontrei todos os motivos para partilhar este projecto. É raro encontrar um livro de poesia com um
design gráfico, que saia do conceito tradicional. Páginas sempre brancas ou
amareladas com o texto escrito em letra Times New Roman, cor negra, margens
largas, folhas em branco, espaços vazios. E poucos arriscam algo mais.
Lembrei-me do catálogo de Pessoa Plural
como o Universo e senti que ainda não era capaz de criar algo semelhante, porque
exige uma equipa de trabalho digital, bons programas de edição de imagem, uma
tipografia em sintonia e muito muito tempo. Ainda não foi desta, talvez um dia chegue lá. Mesmo assim, criei algo diferente, talvez
tenha o negro em excesso, talvez pressione o leitor a ler tudo de uma vez… fiz
uma consulta prévia aos meus amigos sobre desenho a preto ou a branco e não
houve um consenso, e como sempre eu consulto e faço o que me agrada. Uns irão amar,
outros irão detestar, mas acreditem eu não consigo fazer mais do mesmo, só
porque sim, detesto a indiferença e gosto de arriscar.
Entre suor e lágrimas e vontade adiar
este projecto, porque em todo o acto criativo temos 90% de transpiração e 10%
de inspiração, partilhei este projecto com a Sra Dra Mara Minhava, ela mostrou
interesse e surgiu a hipótese do apoio financeiro da CM, em ano de centenário, o número 25, segurou-me e pensei, esta é
a oportunidade de devo abraçar, neste projecto. O mês de setembro foi esgotante
para concluir desenhos, construir maquetes do livro, pensar em todos os
detalhes e felizmente, quando tive este acidente, estava tudo tratado, só
faltava a parte da tipografia. Consegui concluir o projecto, que une palavras,
imagem e tenta despertar no leitor, vontade de saber mais, conhecer o nosso
património e formar identidade. Acreditem que nada aparece por acaso, tudo foi
estudado no mínimo detalhe.
Talvez fosse bonito eu divagar e
comparar-me à obra dos grandes poetas, mas não essa a minha intenção, nem
pretensão e seria completamente descabido. Sou influenciada por tudo o que leio
e vejo, e daí resulta uma "tempestade de ideias", que tento trabalhar
interiormente e de seguida verto suavemente para o papel, em prosa, em poesia,
em desenho, em pintura, em arquitectura…. Claro que tenho poetas preferidos
Fernando Pessoa, Ary dos Santos, Vinicius de Morais, António Gedeão, Viriato da
Cruz, António Jacinto, Sophia… mas não sigo nenhum deles.
Agradeço aos meus dois convidados, a
sua presença e as suas palavras. Como sabem, nem sempre vivi em Trás-os-Montes,
apesar de toda a minha família ser transmontana, não nasci cá, nunca pertenço
por inteiro a um lugar, e foi o prof Hilário, que há quase 35 anos me
apresentou muitos lugares esquecidos, fora de Vila Real, onde viviam os nossos
alunos e o seu património; foi ele que me ajudou a construir um outro sentimento
de pertença a estes lugares, que eu não tinha e que me induziu a encontrar uma
parte das minhas raízes. Por isso para mim fez todo o sentido convida-lo para
escrever o prefácio e estar aqui hoje. Só podia ser ele.
Sobre o Dr. Hermínio, eu sou uma pessoa
reconhecida, Como sabem nunca levei ninguém comigo para apresentar os meus
livros anteriores, para elaborar grandes apreciações literárias que por vezes
as obras não o merecem, a maioria dos presentes sabe disso, porém o dr Hermínio
como anfitrião do CCRVT fez sempre questão de apresentar os meus livros, de uma
forma muito presente, lucida, rigorosa, profunda e ligada aos seus conteúdos,
que me surpreendeu e me encheu de orgulho, por isso o convidei também.
Agradeço aos autores dos comentários
â obra, António e Ana Paula Fortuna, o poeta César Afonso, ao nosso embaixador
Seixas da Costa e a duas poetisas, Graça Vilela e Odete Costa Ferreira, vice-presidente
da Academia de letras de trás os montes, que não hesitaram em colaborar.
Sobre a Sra Vereadora Mara Minhava era
obrigatória a sua presença na mesa para sublinhar a ligação ao centenário da
cidade, este ano terá sido em termos culturais o auge do seu desempenho como
Vereadora da Cultura e facilitou esta publicação e também a utilização desta
sala. Sinto-me muito agradecida, tenho menos um projecto na gaveta e certamente
terá interesse para a comunidade de Vila Real.
Estou muito grata a todos os
presentes, colegas, amigos ao Sr. Presidente Alexandre Favaios, que sempre arranja
um tempinho para me apoiar, e concluo assim mais um desafio. Espero que guardem
este livro num lugar especial, dentro do vosso coração, porque de facto é raro
haver um livro ilustrado pelo autor. Que estes desenhos se tornem inspiradores
para outros caminhos estéticos e culturais. Que seja também motivo para passear
o livro pela cidade e descobrir certos sítios através das minhas palavras
poéticas.
Agradeço à minha família e está
sempre comigo na partilha dos meus actos criativos.
Finalmente, quero deixar esta
mensagem, que esteve sempre presente na selecção de poemas e lugares, aquilo
que nos valoriza é aquilo que nos distingue dos outros e que cria a nossa
identidade.
Obrigada a todos, se alguém quiser
falar pode faze-lo antes de passarmos para o Porto de Honra.
A CRUELDADE DO SER HUMANO
A
CRUELDADE DO SER HUMANO
A
maioria dos policias não são violentos, nem perigosos, não são racistas, mas os
que são, devem ser severamente castigados. O discurso de ódio contra os imigrantes
favorece a motivação para o mal e a banalização do mesmo, favorecendo situações
dúbias para a dignidade humana.
Sinto
uma profunda indignação perante os actos de exploração e escravatura, neste
caso dos imigrantes, um sentimento partilhado por muitos, face à gravidade dos
acontecimentos ocorridos aqui em Portugal. A situação expõe uma "crueldade
do ser humano", que choca a consciência pública. E quem são os autores?
Portugueses, nascidos e criados aqui.
A
discussão pública e as reportagens de investigação têm precisamente como objectivo
impedir o branqueamento destas situações, atirando luz sobre as falhas e os
crimes cometidos, inclusive por elementos das forças de segurança, que deveriam
proteger os cidadãos.
A banalização
do Mal, a passividade ou a normalização de condições de vida desumanas e de
exploração em herdades e comunidades rurais (como no Alentejo e Setúbal) é um
aspeto vergonhoso que tem sido sublinhado pelos comentadores e jornalistas que acompanham
o caso. Como é possível ninguém se ter apercebido de nada? Como? Desta vez,
foram os imigrantes, amanhã serão os nossos vizinhos, depois os nossos amigos e
família e, finalmente, seremos nós. Que vergonha!
Os
detalhes são escabrosos e sempre têm pontos semelhantes, a outras situações,
que ocorrem noutros lugares, até noutros tempos.
Retirar
documentos de pessoas frágeis, em território estranho, impor o medo e a
dependência extrema, fazem parte da velha técnica. A vulnerabilidade destas
pessoas torna-as alvos fáceis para redes criminosas, permaneçam legal ou
ilegalmente no território.
A
Justiça tem agora a responsabilidade de aplicar castigos severos e rápidos, que
sirvam de exemplo para não se repetirem. Receio que tudo seja esquecido daqui a
umas semanas.
Estes
casos trágicos servem como um alerta para a sociedade portuguesa sobre a
necessidade de vigilância constante, solidariedade e de políticas eficazes que
garantam a integração e a protecção de todos os residentes no país,
independentemente da sua origem.
Parece
que os proprietários das herdades não são os arguidos principais nos processos
de tráfico humano, embora a situação varie. O esquema frequentemente envolve
empresas de subcontratação ou angariadores de mão-de-obra que servem de
intermediários. Estes gerem diretamente os trabalhadores, ficando responsáveis
pelo seu alojamento (muitas vezes em condições degradantes), transporte e
pagamento.
Até
que ponto os proprietários das terras, que contratam os serviços destas
empresas intermediárias, podem não ter responsabilidades? Então nem sequer têm
curiosidade de falar com os trabalhadores para ver se tudo corre bem, se lhe
pagam e principalmente o que fazem agentes da GNR dentro da sua propriedade?
Isto será uma negligência conveniente da parte de quem tem grande interesse
económico nos seus bens? Como se costuma dizer, parece-me que a procissão ainda
vai no adro.
Não
sei quantas horas trabalham, o testemunho de uma trabalhadora (pareceu-me ser
mulher, não consegui ver de novo) dizia até um pouco conformada, que recebia 80
euros por mês, mas que vivia num alojamento com água e luz, como se isso fosse
algo a valorizar nesta barbárie.
Em
pleno século XXI, estou triste.
Publicado em NVR 03|12|2025
02 dezembro, 2025
01 dezembro, 2025
MALDITO MINÉRIO
Acabei de ler. Se eu fosse realizadora de cinema, este livro daria um bom filme, sem ter que imaginar muita coisa. Um tema e uma ruralidade espantosos.















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